segunda-feira, 30 de novembro de 2009

CONTOS: NA ÍNTEGRA (Dora / Sob a Semelhante Superfície / Depois da Queda.




DORA

Prêmio Casa da América Latina - Concurso de Contos Guimarães Rosa/ Rádio França Internacional – Paris, 2003;


VI Concurso Nacional de Contos Cidade de Uberaba/ Fundação Cultural de Uberaba/ Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Uberaba/ MG - 2º lugar, dezembro de 2000.


Livro O Estranho (Five Star)


Cena 1- Dois dias depois


As pessoas ganharam uma importância especial, depois da traição. Valem mais, depois da traição. Embora tudo o que não seja humano, embora o Sol tenha-se tornado inútil, eu gosto de forma especial quando alguém me dirige a palavra, ou quando o bancário sorri ao me entregar o troco. Alivia-me alguma parte da alma açoitada. Ouço o desconhecido com interesse, porque é preciso agarrar-se a todos quando se sofre. Todos os assuntos distraem o espírito obcecado pela mágoa. O amigo é urgente. Fisiológico. Procuro vários, seguidamente, e disseco meu enredo, repetidas vezes, como a me esvaziar pela exaustão.


A traição já não me surpreende. Conto-a e reconto-a, e, às vezes, de tanto repeti-la, parece-me não mais ser a mulher traída. De tanto repeti-la, a emoção mecaniza-se, a dor se amortece. Este exercício me distancia por momentos do peso de um sofrimento mudo, do exílio da dor não compartilhada. Porque há o momento em que a solidão se impõe e ninguém, além de mim, pode estar presente. Porque sempre há o momento em que o salão silencia e o amigo se despede. Porque o amigo, por mais íntimo e generoso, sempre se despede. Se ao menos nesses instantes eu estivesse sozinha, dormisse sozinha, tomasse banho sozinha, dirigisse meu carro sozinha... mas ela me acompanha, e sua presença avarenta toma todos os espaços do meu pensamento, do meu coração sobressaltado, dos meus músculos sedados de Lexotan: a dor não cochila. Insone, não se distrai.


Antes, quando estávamos a serviço da felicidade, dois dias antes, quando nós nos fundíamos desnudos sob o lençol branco, nada que não fosse nós importava-me. Ninguém, além dele, atenderia melhor meus interesses, saciaria melhor meus ouvidos curiosos de casos. Ninguém, além dele, seria melhor escolha, melhor programa para minha alegria.


Agora, que ele não está mais aqui em peso e forma sobre mim, ocupa um espaço ainda maior do que quando tinha corpo e sexo. Virou um gigante, de insuportável onipresença, tomando todos os poros do meu pensamento viciado. Vem, com sua presença corrosiva e fantasmagórica. Vem, com a amante. Não está só.


Meu pensamento acolhe a outra e mistura-os, desfigurando em mim sua imagem única de homem que era meu. Meu homem agora surge contaminado, com registros estranhos na pele. Sua pele reage a estímulos que não vêm de mim. E eu vejo mãos estranhas percorrerem sua intimidade de homem que era meu. Sua intimidade, antes, indivisível. Indevassável. E vejo a boca, igualmente estranha, que projeta uma língua em sua nuca. Fecho os olhos para expulsá-la de seu corpo de amante que suspira um suspiro inédito, um suspiro que, desse modo, jamais presenciei. Um suspiro que, desse modo, jamais provoquei. A boca tem contornos difusos, que me escapam. E eu abro os olhos para expulsar também essa boca inimiga dos seus lábios úmidos de homem. Homem que nunca foi meu. Abro os olhos e encontro-os numa cama desconhecida, no ambiente árido que a minha mágoa compõe, em detalhes, com imaginação de artista.


Cena 2 - O golpe


Empurro a porta do banheiro e sento-me no sanitário. Piso o pedal do cesto e, embora o ato mecânico de atirar o papel nunca me leve a acompanhar seu destino, meu olhar, que tem mesmo um hábito de entranhas, fixa-se no maço de cigarros mergulhado na lixeira. Firmo a ponta do chinelo no pedal, e entendo que outra coisa, e não o pequeno invólucro de cigarros, toma minha atenção. A caligrafia dele escapa do maço semidestruído, amassado. A letra dele. Apenas duas sílabas, nítidas, que, apartadas da palavra, não formam nenhum sentido. Duas sílabas projetadas para fora, como uma cabeça erguida, de súbito, sobre um biombo. Como dois olhos destacados na noite, atrás de um muro: mento. Eu leio: mento. Mento. Dois olhos iluminados, surpreendidos na noite, dilatados... delatando-se. Mento. A caligrafia do meu marido: dois olhos quase rendidos. Quase confessos.


Minha extrema intimidade de tudo o que diz respeito a ele, de tudo o que ele produz, diz, pensa... essa real e ilusória intimidade, desperta minha curiosidade sobre aquele pedaço de papel, enfiado no maço de cigarros, e seu conteúdo. No maço de cigarros desse homem cujos hábitos julgo conhecer em minúcias. Conheço a marca, conheço seu costume de amassar o pacote e jogá-lo no cesto. Desconheço, no entanto, por que um pedaço de papel com sua letra estaria ali, quebrando a rotina daquela cena.


Curvo-me um pouco, e, com uma delicadeza escrupulosa, junto dois dedos em forma de pinça para puxar o papel com a letra do meu marido. Hesito e recuo, sentindo-me risível e inadequada. Levanto-me. Desisto da ação, sobretudo por desconhecer o motivo que me levaria a executá-la, pois nada que a justifique me socorre a mente. Ajo por instinto. E, por instinto, sobretudo de asseio, desisto de enfiar a mão no cesto de lixo.


Abro a torneira. Volta o desejo de abrir o cesto. Lavo as mãos e o rosto, num movimento contínuo que me leva do sabonete à água, da água novamente ao sabonete, como uma compulsão, uma ação que não se esgota. E por mais que eu me lave, a água não limpa minha vontade de ser insólita, de ser insana. A água não limpa meu pensamento, que agora já se revela. Não é mais um mero impulso sem forma. Agora tenho a consciência, tardia e óbvia, de que, qualquer que seja o conteúdo daquele papel, não sei tudo a respeito de meu marido. E a certeza de não saber tudo a respeito de meu marido me lambuza de pânico e desamparo.


Fecho a torneira. Várias imagens recentes atropelam-me, como um filme acelerado e desconexo. Permaneço ali, com as mãos apoiadas na pia, sustentando o peso das lembranças do nosso cotidiano que, na verdade, guarda algumas reticências. De súbito, uma lembrança congela meu estômago. Uma suspeita concreta, que me faz puxar, com a própria mão, a tampa do cesto, desequilibrando-o e derrubando-o, pelo excesso de força. Quase todos os papéis espalham-se pelo chão. Puxo do maço a ponta de texto com a letra dele: mento. Descubro: envolvimento. O pedaço de papel não registra mais nada. Envolvimento.


Mas havia outros dentro do maço. Pego o invólucro e o desamasso com tamanha gula, que vários picotes de papel caem, misturando-se aos outros, sujos, da lixeira, despejados pelo chão do banheiro. Meu coração, intuitivo, trota. A intuição conhece a verdade que a lógica desmente. A verdade que meu coração desritmado pressente. Talvez já tenha passado por ali... ou se recorde da dor que não viveu. Ou a esteja vivendo de novo.


Pego um outro caco de folha e me golpeio com um fragmento de frase: vou sentir sauda. Noutro pedaço: Dora. Ajoelho-me no chão e mergulho as mãos aflitas no caos de merda ao meu redor. Não tenho mais cuidados, asseio, ou equilíbrio. Sequer tenho pensamentos. Não penso mais. Também não intuo, pois que a intuição é uma forma inteligente de pensar com a alma. Não penso, não intuo. Sou bruta.


Estico o pijama de malha, e nele recolho todas as pequenas partes daquele quebra-cabeça, procurando, minuciosa, se não teria deixado escapar alguma palavra valiosa de sentido. Saio do banheiro em disparada, deixando a porta aberta e a desordem explícita aos olhos da empregada, com quem cruzo no corredor. Ela pede orientação sobre o jantar à luz de velas. Faço dez anos de casamento. Não respondo nada.


Tranco-me no quarto e espalho meu tesouro pelo chão. Procuro o nome da desconhecida. Encontro: Dora - Dife - vida dupla. Alguns pedaços, de tão diluídos, sequer os compreendo: Esp - Voc. Noutros, a tinta da caneta, manchada por algum líquido, desfigura completamente o entendimento das palavras. Imagino que não vou conseguir, embora o desânimo momentâneo não me detenha.


Tenho acesso a partes da história, de forma desordenada, à medida que monto as frases. Não me dou conta do tempo despendido, mas meu mosaico, mesmo cheio de lacunas, está, enfim, acabado. Releio, então, a carta de meu marido, tentando acalmar a respiração e organizar minha confusão interna. Pingos grossos resvalam pelo meu rosto, à revelia, subvertendo minha dor trancafiada:


Dora,


Você me perguntou por que pedi para mudar de departamento, e eu acabei evitando responder


Preciso pôr um fim nessa convivência que inventamos pra nós. Minha mudança de departamento foi, realmente, um primeiro passo importante, pois, naquela imensidão de empresa, não vamos nos esbarrar com tanta freqüência.


não almoçaremos mais juntos, o que, para mim, é um grande,


pois sua presença é muito envolvente.


muito talento para vida dupla. Esse nosso processo de sedução. Um casamento longo como o meu passa por fases de menos envolvimento, as pessoas ficam mais práticas ou menos


minha mulher, embora saiba que vou sentir saudades. Porque, no casamento, as fantasias com outras pessoas são inevitáveis. Você está sendo Espero que me entenda. Espero que me perdoe a covardia. Na verdade, espero que


Cena 3 - O aniversário de casamento


Meu marido toca a campainha, fugindo ao costume. Carrega num dos braços um ramo de flores, no outro, uma caixa colorida. Viro o rosto, e o beijo pega no canto da minha boca. Bebo a segunda taça de vinho e me sinto um pouco anestesiada. A mesa já está iluminada para o idílio e digo-lhe que tenho pressa de jantar. Ele está tão empolgado com a ambientação, que não percebe meu olhar vazado. Estou de coque, como ele gosta. O vestido novo é preto e decotado, como ele gosta. Elogia-me com um sorriso escancarado. Está feliz. Uma felicidade límpida, ingênua. A ingenuidade que precede toda morte súbita. A ingenuidade de quem desconhece que, em questão de segundos, um disparo saqueará sua vida.


Digo-lhe que também tenho um presente para ele, e aponto o embrulho sobre a mesa. Ponho as flores e a caixa sobre o sofá e ele me pergunta se não tenho curiosidade de abrir. Peço-lhe que veja primeiro o seu presente. Desconheço a quantidade de energia gasta para organizar aquele ritual até a noite. Não sei como orientei o jantar, como me maquiei, como calcei os sapatos, como não liguei para o seu trabalho, para que ele viesse correndo, pois era uma emergência! Não sei com que força levantei do chão do quarto para tomar banho. Não sei de onde veio essa mulher racional, mas sei que não suportaria viver a esposa desesperada aos pés do marido traidor. Um personagem cerebral guia-me nesse enredo. A raiva guia-me. Sou assediada por uma infinidade de sentimentos oscilantes, embora a raiva seja, nesse momento, uma emoção clara e fixa. Sou a raiva. Ela me contém e acalma. Meu ópio e minha arma.


Meu marido tira o paletó e, quando afrouxa a gravata, seus pêlos ruivos roçam como lixa os meus olhos. Seus pêlos, avançando o pescoço, provocam em mim desejo e despeito. O despeito de quem nunca mais irá tocá-los. Desvio o olhar, sentindo-me menor pelo desejo. Estou vulnerável. A raiva perde força, como um estio repentino de temporal. Ele abre a caixa saboreando o desfazer de cada laço, com uma delicadeza feminina. Recomponho-me, aos poucos. Tomo mais uns goles de mágoa e novamente estou pronta para odiá-lo.


Vejo que seu olhar localiza o presente, mas não o identifica. Fica alguns segundos vendo sua própria letra dentro da caixa, absorto. Estou sentada na cadeira à sua frente e pergunto-lhe se gostou da surpresa. Minha voz soa firme como um soco. Minhas pernas tremem sob a mesa. A carta, ou o que resgatei da carta, está emendada com fita durex.


Pergunta-me como fiz aquilo e respondo-lhe que não fiz nada, que o sujeito da ação foi ele mesmo. Levanta-se e começa a bradar justificativas que não ouço. Gritamos juntos, num coro desarmônico e febril. Ficamos assim por muito tempo, até que ele segura meus braços e me implora para ser ouvido! Todo o meu esforço para filtrar a dor, para ao menos não demonstrar que estou derrubada, é inútil. Estou derrubada, como a taça de vinho, que, num gesto cego e brusco, tombei sobre o linho da mesa.


Aceito ficar em silêncio e tentar ouvi-lo. É quase impossível conter o transbordar de insultos e acusações que meu desespero produz, numa freqüência tão rápida, que nem meu próprio entendimento alcança. Aceito ficar em silêncio porque preciso que ele me convença de que todas as evidências são equivocadas. Preciso que ele me prove que estou louca ou que Papai Noel existe. É urgente que ele me salve de mim, porque insultá-lo já não me basta, já não me alivia a dor. Ao contrário, cada vez que ele se debate sob o chicote das minhas palavras, apanhamos os dois.


Meu marido cria sua ficção: a amante não era amante. O que poderia ter sido um caso não passou de desejo não realizado. Eles apenas saíam para almoçar e conversavam a respeito desse desejo. Pego a carta, que nessa altura já está sobre o sofá, e pergunto-lhe, em tom contido, o que significam aquelas confissões? O que significa, por exemplo, “... muito talento para a vida dupla?”. Antes que me responda, digo-lhe que está claro na carta o rompimento de um romance. Que ele, naquele momento, seja menos covarde do que tem sido! Seus olhos estão vermelhos, as pálpebras inchadas como quem chorou muito; mas não verteu uma lágrima na minha presença. E não saiu um segundo da sala.


Caminha até o bar e serve-se do mesmo vinho que bebo. Ficamos, milagrosamente, em silêncio. Sento-me no sofá, e o movimento de afundar meu corpo no estofado proporciona-me a primeira sensação de alívio daquelas quase oito horas de martírio. Respiro profundamente, e a quantidade de ar inspirado quase me abastece.


Meu marido senta-se ao meu lado e procura meu olhar, que atravessa a cristaleira. Volta a afirmar que não houve nada além de sedução mútua, contida a tempo. Pergunto-lhe por que precisaria pôr fim a uma coisa que nunca existiu, e peço-lhe que saia de nossa casa por uns tempos. Diz que estou sendo cruel e repete inúmeras vezes seu amor por mim. Indaga-me, quase em tom afirmativo, se nunca tive fantasias. Garante, por fim, que isso poderia acontecer comigo, que qualquer um pode iludir-se de que está apaixonado. Sinto certo alívio com essa possibilidade e agarro-me a ela com alento. Admito, apenas para mim mesma, que já tive insistentes fantasias de traição, num certo momento. Pela primeira vez, lamento profundamente não tê-las realizado.


Olho para ele, devagar. Meus olhos tocam os seus com dificuldade, com o cuidado de quem sai da claridade e entra no breu de um cinema. Entro no breu dos seus olhos azuis. Seus olhos azuis são negros. Quero mudar a realidade, mas a realidade é incontrolável.


Cena 4 - A fuga


Faz seis dias que não nos vemos e dois que ele não me telefona. Talvez esteja cansado da arrogância de minha mágoa. É impossível não o atender ao telefone. Também é impossível escutar suas mentiras. Cada palavra sua reacende meu ressentimento. E meu ressentimento me faz acionar um arsenal de insultos válidos, outros vãos. Visito nosso passado e reativo todas as mais insignificantes quinquilharias de desgosto. Especializo-me em sofrer e fazer sofrer. Especializo-me em acusar e ter razão. Ter razão infla-me e deixa-me menos humana. Ter razão fortalece minha couraça e preserva a distância de que preciso para manter-me de pé.


Esses telefonemas duram pouco. Na maioria das vezes, deixo sua fala ao meio e desligo. Quando toca a campainha, não o atendo. Troquei a fechadura. Tranco-me inteira. Penso em ceder, em perdoar, mas perdoar não é uma decisão racional, não depende de minha boa-vontade. Ou depende? Estou confusa, mas sei que seria insuportável deitar-me com um homem que deseja outra, que chama silenciosamente por outra. Eu também poderia desejar outro. Outro que me quisesse, que pensasse só em mim. Poderia tentar esquecê-lo. Lembro do homem por quem me senti seduzida. Ele também me queria. Disse isso a minha amiga, no curso de informática. Ela sabe seu telefone. Ligo. Ela diz que estou sendo infantil, mas fornece a informação de que preciso.


Estou diante do homem que será, em breve, meu amante. Ele bebe água mineral e fuma. Imagina que o desejo, e tem um olhar direto, quase vaidoso. Um homem seco. Antes não parecia ser um homem seco. Antes, sorria, ao me encontrar no curso. Digo para mim mesma que é apenas o primeiro encontro, que depois ele se tornará um amante tão ardoroso, que nunca mais pensarei em meu marido. Um homem que não me trairá. Viveremos um amor legítimo, que não se extinguirá na merda de um cesto de lixo.


Mas é quase um sacrifício estar ali. De perto, ele não é atraente. Fala pouco, e a imagem eloqüente de meu marido está entre nós, contaminando nosso parco diálogo, com suas inserções inteligentes. Penso que não posso ser tão exigente, afinal, quero ou não parar de sofrer? Ele me beija e seu beijo tem sabor de saliva. Há dez anos não sou íntima de outro homem, e tento me convencer de que a estranheza é natural. Enquanto ele me beija novamente, sua mão desliza pelo meu seio, de uma forma tão inesperada e suave, que todo o meu corpo reage. Acorda. Compreendo, enfim, que outra pessoa pode confundir minha cabeça. Compreendo que também sou vulnerável, e não quero mais brincar disso. Levanto-me no mesmo momento em que o garçom traz nosso jantar. Ele me olha, sem surpresa. Digo-lhe qualquer frase desconexa e saio do restaurante como uma fugitiva.


Cena 5 - A cilada


Entro em minha casa, com uma saudade imensa, pura e viva do homem que amo. Ele continua no apart hotel de Copacabana, atendendo ao meu pedido de afastamento. Temo que tenha desistido de mim e que volte a procurar a amante.


A amante toca a campainha. Vejo a mulher pelo olho mágico e entendo que é ela. Intuição? Alguma coisa de meu marido está impregnada em seu semblante. Mas qualquer mulher estranha tornar-se-ia, aos meus olhos, a amante de meu marido!


Apresenta-se como uma colega de trabalho dele, e minha suspeita se confirma. Não é bonita, mas isso não importa; ele a deseja. Desejou, segundo ela. Está ali a seu pedido, para confirmar que não houve nada. Somente porque ele não quis, faz questão de ressaltar. Minhas mãos estão trêmulas, mas tento pegar com segurança o envelope que me é entregue. Uma carta. O original da carta que ele lhe endereçou. A carta-rompimento, sem as nódoas do rascunho rasgado no lixo:


Dora,


Decidi lhe escrever, porque é mais fácil assim. Você me perguntou por que pedi para mudar de departamento, e eu acabei evitando responder pessoalmente.


Preciso pôr um fim nessa convivência meio dúbia que inventamos pra nós. Minha mudança de departamento foi, realmente, um primeiro passo importante, pois, naquela imensidão de empresa, não vamos nos esbarrar com tanta freqüência. E, com a diferença de horários, não almoçaremos mais juntos, o que, para mim, é um grande auxílio, pois sua presença é muito envolvente.


Dora, contrariando o que grande parte das mulheres pensa dos homens, não tenho muito talento para vida dupla. Esse nosso processo de sedução está ficando muito perigoso para mim. Prefiro que ele pare nas palavras. Estou bastante atraído por você, mas, ao contrário do que imaginei e disse, não é paixão o que sinto. Desculpe. Um casamento longo como o meu passa por fases de menos envolvimento, onde as pessoas ficam mais práticas ou menos sensíveis, mas isso não significa que não ame minha mulher.


Dora, amo minha mulher, embora saiba que vou sentir saudades do que, afinal, não houve entre nós. Não sei se você me entende, mas acho que vou sentir saudades da fantasia não realizada. Porque, por mais que a gente seja feliz no casamento, as fantasias com outras pessoas são inevitáveis. Você está sendo uma fantasia perigosa demais, pelo nível de atração que me provoca. Espero que me entenda. Espero que me perdoe a covardia. Na verdade, espero que admire minha coragem, porque é preciso coragem para não concretizar um envolvimento com uma mulher tão bonita como você.

O telefone toca. Na secretária eletrônica, a voz de meu amante. Mas não lhe dei meu número! A mulher me olha. Levanto, num salto, para interromper a mensagem, que escorre como água: Apesar de tudo, foi muito bom. Já tem saudades, quer mais uns beijos e precisa me ver.



 SOB A SEMELHANTE SUPERFÍCIE


Prêmio Nacional Ponta a Ponta SEPAM de Contos - 1995, Ponta Grossa / PR

Livro Sutilezas do Grito (Rocco)

Não foram as suas cuecas, invariavelmente espalhadas pelo quarto. Nem o bar dos sábados com os amigos. Não foi a última briga nem a soma de todas. Uma incógnita nos impede o acesso ao que nos une a uma pessoa e nos afasta de outra. Muitos nós nesses vinte anos de laços. Estou apaixonada. Neste momento procuro consultar o que sinto ao escrever-lhe. Dois nítidos sentimentos se sobrepõem, em contraste: tristeza antecipada, por saber que vou magoá-lo, e igual prazer por saber que vou magoá-lo. Não pense, por isso, que minha paixão é um tolo movimento de revanche. Houve tantas chances de vingança que já teria me apossado de alguma, se quisesse.


Você está agora no futebol dos domingos. Chegará suado, músculos lustrados, olhos foscos. Seus olhos não brilham mais. Quem sabe nos dribles do atleta... mas no cotidiano da casa, nos raros momentos em que se esbarram com os meus, não vejo mais nenhum brilho. Certamente, você me vê também assim, opaca e silenciosa, carregando pelos cômodos uma incômoda mudez. Não, talvez meu silêncio não signifique incômodo para você. Lembro-me de que, numa antiga discussão, você deixou claro o desagrado por minha mania de discutir os problemas à exaustão. Prefere a superfície. Eu, o que se esconde nos porões. Isso não me faz melhor. Às vezes, meu bem-intencionado mergulho nas águas turvas da relação era um simulacro. Um instrumento para vê-lo espernear com os meus porquês, jogado num lodo interior de explicações, tentando apoiar-se de novo na bengala da sua objetividade masculina. No início, era fundamental vê-lo prático e dono de todas as certezas. O mundo subjugado a sua destreza viril, que tramitava entre pagar as contas e discorrer sobre todos os assuntos. Minha geração digeriu sem muitas queixas os temperos mais indigestos do casamento. Minha mãe reforçava que eu não deveria exigir tanto de você. Que os homens não eram muito detalhistas. Esforçava-me, mas precisava esmiuçar a emoção, compreender o avesso das suas meias palavras.


Você inventou a ideal simplificação dos temas que eu propunha: colava a boca na minha, calando-me num beijo que nos levava a outras linguagens. Não tentaria mentir, negando a excitação desses desvios de trajeto. Calávamos um discurso para dar lugar a outro menos contraditório ou combativo. Até então, não havia tropeços nesse trecho da nossa comunicação. Ao contrário, absoluta comunhão. Mas o recurso se desgastou e acabou sendo um meio de evitar que tocássemos terrenos desagradáveis. Uma fuga, um ópio, um esconderijo. Calar-me com seu corpo. Acender-me para apagar-me. Uma arma. Atualmente em desuso. Sua sedução há muito não incide sobre mim. Você a espalhou pelas noturnas reuniões do time. Multiplicavam-se os encontros com a equipe, conduzindo sua sedução por caminhos novos. Até que, numa noite insone, resolvi descobrir o que insistia em negar. No clube, você se encontrava com sua motivação loura. Cabelos falsamente claros, formas talhadas - visão possível de quem observa à distância. Aproximar-me seria o fim. Não desejava que um ponto definitivo interrompesse meus dez anos de casamento. Aproximar-me seria violar por completo minha teimosia amorosa. Observei os enamorados de longe.


Em casa, acuado, tentou banalizar o romance: Não era sério. Terminaria no dia seguinte. Tudo, menos me perder. Os homens eram assim, não resistiam às tentações. Enfim, todos os chavões saltavam da cartola. Como um mágico tentando animar a platéia com o velho número dos pombos. Acreditei no truque do ilusionista. Mariana era uma adolescente próxima. Racionalizei a importância de um pai presente, uma família ordenada. Mas o caos se instalara. Na verdade, tinha pânico de estar só e desprotegia a imagem de nossa filha, como pretexto.


Estou apaixonada. Não há nada que me assalte esse amor. A não ser que ele próprio se esgote no seu tempo. E quando um dia acontecer o corte, saberei entender que a vida se renova em morte. Aos quarenta, não estou resignada. Mas tenho forças para me amar além do amor que possa receber do amante. Você não me espera assim. Ainda ontem falava como se todos os rumos da nossa vida conjugal só pudessem ser pilotados por você. Anunciou uma viagem de férias, para o sítio, que fará sozinho. Discorreu sobre a importância das férias conjugais, num tom de quem se desculpa, de quem pede para ser perdoado. Eu, ouvinte silenciosa, tecia minha trama romântica como um trunfo, um segredo saboreado. Há muito tempo faço do silêncio meu estilingue, meu alfinete. Deixei que clamasse por sua solidão criativa, que usasse até argumentos, como: "A distância revigora a relação". Sabemos que entre nós a distância já se instalou, irrevogável.


Há seis meses entrego-me a outra pessoa. Inteira. Mariana está casada. Meu coração se desamarra, aos poucos. Não imaginei que pudesse me deparar com tanta novidade. Aprendemos que, nesta idade, os afetos se resfriam e os sonhos despencam com os seios. Além do mais, sempre estranhei que o amor surgisse de uma fonte aparentemente sem mistérios. Que o desejo pudesse saltar assim, por um corpo tão familiar em desenhos e cheiros... em textura. Teorizava sobre a importância das diferenças. Os contrastes mais nítidos seriam, para mim, os que me instigariam o desejo. Desconhecia as sutis diferenças, as que apenas intuímos sob a semelhante superfície. Quando acaricio seu corpo, tão igual ao meu, toco regiões inusitadas da minha feminilidade. Quando nossas saias se confundem sou mais que uma mulher. Sou tudo que não tem nome. Desaprendo o que aprendi. Contrario o que ensinei. Sou apresentada a mim quando ela come meus traços com suas pupilas amorosas. Seguindo seu desejo sou meu desejo. E passo a querer nós duas. Ver-me, assim, por sua ótica de amante, é desvelar em mim o que, sozinha, seria cegueira.


Refeito do susto, certamente você irá questionar o que um homem teria deixado de dar a uma mulher, para levá-la a procurar outra. O que teria sido insuficiente no seu desempenho viril. Sempre você como eixo de todas as coisas. Respondo, antecipadamente, pois exercito, nesta carta, uma crueza necessária: o que nos afasta de alguém são sempre excessos e faltas. Nossos excessos e nossas faltas levaram você às amantes, e a mim, ao amor. Não. Talvez a primeira tenha sido amada. A loura falsária, a que "não era sério". Porque foi difícil terminar no dia seguinte. O dia seguinte estendeu-se por meses, quem sabe um ano, pelas pistas que testavam minha reincidente cegueira.


Estou apaixonada. Levo parte das roupas. Esta é apenas uma pausa para ordenar-me. Ah... a buzina! Volto para esmiuçarmos juntos minha partida. Para que nossos olhos se enfrentem ao menos no fim. A buzina! Tenho que ir. O chá está quente sobre o fogão.



DEPOIS DA QUEDA


Livro O Estranho (Five Star)

Morri. E não havia me preparado para nada tão radical naquelas férias, quando liguei o motor do caminhão do meu tio e peguei a estrada. No entanto, morri. Mesmo que todas as evidências contrariem o fato: desde minha carne cicatrizada aos meus ossos rejuntados. Mas quando o volante se soltou das minhas mãos e o caminhão virou pássaro ribanceira abaixo, o que eu chamava de vida era sangue e pó. O que eu chamava de carne e osso virou carne, osso e ferro. Meu corpo e o corpo do caminhão fundiram-se, soldaram-se de súbito, atracados no ar. Meu corpo e o corpo do caminhão, quedados no chão, numa brutalidade cinematográfica. E formas novas surgiam do que, segundos antes, eram meus braços, e pernas, e rosto. Como uma instalação instantânea em galeria underground. Os ferros davam ao meu corpo estilo de filme de terror. Horror.


Vinte e dois dias de UTI. Uma vaga memória, talvez. Ou invenção? De vozes, cores, pedaços de palavras. Não eram pensamentos. Sensações. Uma tênue lembrança de ter mergulhado num nada profundo, nem paz nem dor, às vezes algum rosto, uma senhora grisalha, baixinha, vestida de branco, ao pé de minha cama... rezava. Um espectro? Sombras... sonho?


Quando acordei, ou renasci, estava cercado de gente. Muitos olhos orlavam minha cama, perfurando, curiosos, o meu corpo inumano, já tão perfurado. Meu velho novo corpo, que mais parecia uma máquina, ligado a fios, condutores, respirador, ferros, aparelhos... Os rostos giravam, eu estava tonto, os rostos dos colegas de trabalho, familiares distantes, nenhuma fisionomia fazia sentido, como não fazia sentido aquela dor enorme que sentia na perna direita.

Aos poucos, reconheci uma parenta, de quem não lembrava o nome, tio Antônio, que viajara horas para me visitar mas estava inconformado com a perda do caminhão, e dois professores do colégio onde eu lecionava Literatura.


Estes e outros curiosos, travestidos de amigos, persistiram por um tempo, curtindo uma dor provisória que se dissolvia quando o guarda do hospital anunciava o fim da visita, e lá fora o pôr do sol desenhava o fim do dia. Não eram maus, os curiosos, apenas me esqueciam na primeira curva da calçada que os lançava de novo à vida. Apenas me esqueciam no futebol, nos cinemas, nas festas, no cotidiano de seus afetos sãos.


Duraram menos que eu, os curiosos. Ali, diante do meu leito, nos dias de visitação, tiveram vida curta. Alguns resistiram semanas. Outros, um ou dois meses, talvez. No início, levavam frutas, que eu não podia comer, deixavam sobre a mesa algum jornal, que eu não podia ler, e em mim um olhar de piedade pegajosa, repulsa ou descrédito nas minhas chances de vida. Alguns deixavam lágrimas ralas, lamentos, piadas, mas nenhum, nos cinco anos em que morei naquele hospital, deixou a benção de sua presença. Sumiram todos, aos poucos, cansados da minha insistência em viver.


Afinal, eu não lhes dava nada em troca, nem sequer a garantia dos benefícios futuros de minha amizade e gratidão. Para eles, o futuro não era um bem de que eu pudesse desfrutar. Não lhes dava nada, nem ao menos motivos para vibrarem, torcerem por mim, de tão imperceptível minha recuperação. Uma aparência destroçada, que quase não se modificava a cada visita, a cada tarde de domingo que, enfim, investiam naquele hospital, desviando-se de seus pequenos prazeres. Compreendo, cansei os curiosos.


Minha noiva também não resistiu. Mas quem pode medir a dor dessa espécie de espera? Quem pode julgar esse tipo de abandono? Afinal, não seria o abandonado quem abandonou? Na distração da curva, no lapso do meu olhar ébrio, na velocidade a mais da estrada úmida, não teria sido eu o primeiro a deixar Maria? Não teria sido eu o primeiro a desprezar nossas vidas?


Minha noiva se casou com um dos meus colegas de trabalho, que aparecia sempre nos primeiros tempos, depois que recobrei a lucidez. Via-os ir embora juntos. Ele, que antes saía apressado, passou a esperá-la. Certo dia, tive a impressão de que o quarto do hospital era um pretexto... eu era um tácito pretexto para se encontrarem.


Mas não havia nenhum combinado ardiloso, nada tramado por trás. O que os tornava mais indefesos, menos protegidos daquela paixão que, se ao menos fosse nítida para um dos dois, quem sabe cederia à razão? Se ao menos um deles tivesse a intenção de trapacear... quem sabe algum tipo de nojo os conteria, alguma espécie de crítica, de culpa salvadora os repeliria? Mas eles não sabiam de nada. Não viam que, quando seus olhos se roçavam, projetavam uma luz no quarto que me cegava. Inocentes. Ao menos no início, inocentes. Só eu os via incandescentes, só eu sentia a ascensão do fogo nos seus corpos quando se esbarravam, casualmente, ao cruzarem meu leito para pegar o controle da tevê, abrir a gaveta, verificar o soro...


Conheci então a real imobilidade. Maior do que aquela que me atrelava à cama, maior do que a impotência de correr, andar... construir gestos mínimos. Estava realmente imóvel. Atado. Embora visse minha noiva se esvair, aos poucos, não inventava gesto que pudesse abraçá-la. E mesmo que tivesse braços livres e pernas sãs para detê-la, não conhecia gesto que pudesse contê-la, protegê-la daquela paixão. E era medonha a dor de ver minha noiva partir, como espectador. Com todas as dúvidas de quem assiste a uma trama e apenas intui o fim, enquanto o coração sacode o peito, acelerado. O coração, o que havia de movimento em mim.


Todas as minhas certezas eram dúvidas que eu agarrava, rezando a Deus para estar só alucinado. Rezando para estar sendo injusto, ingrato, insano e sujo.


Quando conheci Maria entendi o que era amor. Aquele de que antes só ouvia falar. O que assistia no cinema. Antes de Maria, o amor era a busca de algo que lia nos livros... em algum verso, nas páginas de crimes passionais dos jornais. O amor era história que alguma mulher chorava, que algum homem temia contar. O amor, para mim, era preencher aquele nada no peito, aquele buraco do dia. E uma mulher apenas não bastava. Cada vez que eu enfiava uma mulher no meu nada, ele se esgarçava e pedia outra, como a boca aberta de um animal gigante, o estômago de um tubarão a engolir objetos, detritos e as pernas dos incautos. E eu catava uma mulher e outra e outra... e todas juntas não saciavam a gula do mostro em mim.


Experimentei assim o que chamam traição. Até que conheci Maria: tantas... que mal podia suportar outra. Não podia com Maria! Camaleoa a transmutar-se à minha voz, ao meu toque, ao meu silêncio. Não podia com todas as saias e calças e seres e bichos de sexos e mentes insondáveis que a mim se ofereciam, num fluxo inesgotável de querer.


Com ela desaprendi a rotina e o hábito de buscar as coisas do lado de fora. Desaprendi, aos poucos, a fuga e o medo de ter. Voltei para minha face a face do espelho, e a procura, que antes era do outro, virou mergulho interno. E quanto mais me conhecia, para melhorar para Maria, mais aprendia a viver por mim mesmo. Que o amor, bem aproveitado, faz emergir e fortalece o eu que se esconde. Tanto, que quando minha noiva partiu, seu amor já me havia feito homem. Já sabia ser frágil, de tão forte! Quando minha noiva sumiu de vez, já não precisava mais fugir da dor - que é melhor sofrê-la toda, com gosto e sem pudores de macho. E sem temer a morte ou a loucura. Porque a dor mata e enlouquece de qualquer jeito. E é preciso ousar desintegrar-se quando ela é desmedida. Sempre vigiando as partes, para que nenhuma alegria se perca de vez. Quando se sofre assim, o mosaico da alma, inteiro, ganha forma nova. Como a natureza veste-se de luz depois das tempestades.


Três anos de sumiço, nem vestígios de Maria. Só então guardei a aliança na mesinha de cabeceira. Não recebia mais visitas, a não ser os enfermeiros, pacientes e médicos. Alguns deles deslocavam-se de seus pavilhões e andares até meu quarto só para me cumprimentar, deixar uma revista ou me contar um pouco do mundo lá de fora, que só me chegava através deles, do rádio e da televisão. Meus amigos. Aqueles que, em parte eu escolhi, em parte a vida escolheu para mim. Mas eram amigos, sobretudo os pacientes do hospital, amigos provisórios que, em algum momento, sempre partiam.


Hoje sei que amigos brotam dos lugares mais áridos e improváveis. Basta que se necessite tê-los. E eu necessitava. Para isso, aprendi a habilidade da troca, de todos os tipos. Das impalpáveis às materiais. Aprendi a pedir e dar afeto, a intuir quando alguém queria carinho e a oferecer-me, sem melindres. Também aprendi a pagar para obter pequenos agrados e favores. A relativizar o valor do dinheiro. Redirecionar sua função. Parte significativa da remuneração da minha licença servia para faxineiros e enfermeiros facilitarem minha vida naquela residência compulsória. E construí, no hospital Santo Evaristo, uma família.


Depois de 16 cirurgias, já corria pelos corredores com minha cadeira de rodas, com agilidade circense. Visitava pacientes em várias enfermarias, recebia-os no meu quarto para assistir ao futebol, comer biscoitos e fazer planos, uma de minhas práticas preferidas: fazia planos para as menores realizações. Sem planos não teria sentido abrir os olhos pela manhã. Meu quarto era digno de qualquer visita. Arrumado e mobiliado com refrigerador, poltrona e quadros coloridos.


Conhecia toda a geografia daquele mundo provisório. Elevadores, saídas de emergência, centros cirúrgicos, todos os buracos, conhecia sobretudo a noite daquele hospital. O silêncio dos seus corredores... um silêncio de sobressaltos, quebrado a todo instante por uma tosse, um gemido ao longe, uma campainha aflita.


No Natal de 1995, a mudez do corredor, no final da tarde, já denunciava o que seria a noite. Tinha certeza de que, naquela noite, não ouviria nem os ruídos mais banais. Estava decidido a não passar a meia-noite confinado naquele corredor, com os nove internos que restavam, os que também não haviam sido carregados para lugar nenhum, por nenhuma família, para qualquer comemoração.


Escancarei a janela do quarto e olhei para baixo. Os nove andares sugaram minha cabeça, com força. Apoiei-me no parapeito. Vi que a vida pulsava lá embaixo. Apesar da distância, pelo movimento das pessoas a alegria predominava no bar próximo ao hospital. Mesmo que forjada, movida à cerveja, à data sagrada... Mas quem era eu para duvidar daquela alegria pontual, de homens e mulheres sãos?


Procurei, naquele labirinto tão familiar do hospital, os caminhos de fuga. Mas não queria fugir, apenas escapulir, rir um pouco, partilhar daquela euforia do bar... bebericar. Há quanto tempo não via o mundo! Estava cheio daquele mundo virtual que me chegava através das telas, das palavras dos outros. Cansava-me saber do mundo pelos olhos dos outros, pela fala filtrada dos outros. Por mais que esmiuçassem um fato, descrevessem em detalhes a mudança de uma paisagem antiga... a vida real para mim transformara-se em ficção... imaginação. Assim como o mais livre e criativo leitor constrói um mundo a partir do mundo que o escritor enxerga, a vida tinha-se transformado naquilo que me contavam. Por mais reconfortante que fosse usar outros olhos para imaginar o que não podia ver, queria, ao menos naquela noite, voltar a sentir o impacto da realidade, sem qualquer pudor ou triagem.


Apertei o botão, entrei no elevador dos defuntos. Não era a primeira vez que viajava naquele carregador de almas, mas nunca sentira aquele cheiro de enxofre. Ou mofo, ou rosas? Algum odor intenso me enjoava, pelo excesso. Costumava ver corpos sendo conduzidos em macas naquela geringonça fedida, de paredes acolchoadas. Mas aprendi a não ter pequenos pudores. Precisei aprender a não acalentar mais os preconceitos dos mortais. As exigências escrupulosas de quem tem a vida tão ajeitada, que nada lhe sacia a alma, nada lhe atende o querer.


Desci, enjoado, mas satisfeito. Seguro de que, se conseguisse driblar os médicos, enfermeiros ou vigilantes intrusos que encontrasse pelo caminho, seria, por uma noite, o homem mais feliz do mundo.


Havia passado óleo na cadeira de rodas, e ela parecia um carro possante... um par de pernas de malabarista. Por pouco não substituía as reais, de tão íntima e harmonizada ao meu corpo.


Saí do elevador. Estava próximo à galeria que dava na garagem. Uma servente, de costas, passava um produto no chão. Girei, de súbito, a cadeira. Leandro, o guarda de plantão, conversava com uma mulher loura, entretido com o panetone que ela atirara em seus braços.


Alcancei, finalmente, a rua. Olhei o céu. A lua me recebeu, me reconheceu! A noite já havia engolido a tarde, acho que demorei muito para descer. Supervalorizei o poder das rodas. Em outros tempos teria chegado mais cedo.


O bar parecia ainda mais festivo. Agora, de perto, as pessoas não tinham tanto glamour. Uma mulher descabelada repetia uma frase engasgada para o homem de terno que a abraçava, emocionado. Alguns dançavam fora do ritmo o som alucinante que tocava: rapazes, e moças de saias curtas e decotes. Um velho assistia às cenas, escorado no poste.


Estacionei a uns cinco metros daquela agitação, estava tonto de alegria com minha liberdade provisória, queria me aproximar das pessoas, fazer amigos. Ao mesmo tempo, me sentia destoante com aquele camisolão assexuado do hospital, sem cueca, com a vulnerabilidade da bunda à prova. Nunca mais me preocupara com a aparência do meu corpo, pois que a recuperação da saúde era incompatível com minhas antigas exigências estéticas.


Nos hospitais, os corpos têm de estar à disposição. Você deixa de ser uma pessoa - passa a ser uma patologia. Os doentes são, muitas vezes, apenas corpos. Não são cérebros, nem almas, nem têm muita vontade. Como o poder é reduzido nos hospitais! Este talvez seja o lado bom do exercício de sofrer: enxergar a ilusão do poder, essa peste sorrateira que ataca os mais supostamente humildes, e os de arrogância caricata.


A qualquer hora seu quarto pode ser invadido pelos amigos de branco, que manipulam seu corpo de um lado para o outro com rapidez e destreza. E, se quiser se recuperar sem grandes constrangimentos, esqueça os pudores, porque a intimidade é compulsória e necessária à cura. Ao menos a intimidade que estabelecem com sua carne exposta. A outra, a intimidade invisível, a que revoluciona seu peito quando a luz se apaga, esta exercitei com Deus.


E quando a luz se apaga nos hospitais, o sossego é provisório. De madrugada acendem o interruptor, enfiam um comprimido na sua boca, dizem algumas palavras animadoras e pronto, você lembra que está vivo. O doente tem de estar disponível, como uma puta. Todo doente é uma puta. Alguns ganham a saúde como remuneração, pela entrega do corpo. Outros, o calote da morte. Tive sorte!


Mas diante dos desconhecidos do bar, habitantes do mundo verdadeiro, sobretudo diante daquelas mulheres tão sorridentes, resgatava algum brio antigo... alguma preocupação viril com minha aparência. Voltava a ser homem. Passei os dedos nos cabelos, ajeitei a bata...


Mas minha alegria foi contaminada pela incômoda constatação de que era diferente daqueles homens. No hospital, pelo menos éramos todos iguais em infortúnio e esperança. E os visitantes não esperavam de nós mais do que a aparência apresentada. No hospital éramos enfermos, apenas. Nossas limitações, naturais aos olhos de todos. Mas ali, na rua, eu era um homem. E as mulheres voltavam a ser mulheres. Possibilidade maravilhosa mas angustiante, porque me induzia a comparar-me com todos aqueles homens e a invejá-los. Talvez não tivesse mais tanta familiaridade com a alegria, pois um lado adoecido da minha mente sofria e complicava tudo.


Passei a sentir medo, e procurei uma mentira para dizer ao primeiro que se aproximasse questionando o que eu fazia ali com aquela fantasia. Mas antes que alguma mentira me socorresse, senti a mão pesada no meu ombro. Gelado, olhei para trás com a certeza de que alguém do hospital fora resgatar o fugitivo.


Mas quando o desconhecido sorriu para mim, erguendo o copo de cerveja em brinde, experimentei um alívio tão grande, que a felicidade voltou a ser mais importante do que tudo. Recobrei a sensação inicial de fugir do hospital e esbarrar na lua. Aproveitar o momento passou a ser mais urgente do que ser um homem saudável... apresentável. A vontade de aproveitar a noite suplantou o medo. Nada como um susto para nos ajudar a reordenar prioridades, iluminar o que há de essencial no breu. E o essencial era sorrir... esquecer.


Depois de conversarmos com esforço, tentando superar o volume da música, o desconhecido e eu estávamos devidamente apresentados. Encontrei no homem um cúmplice festivo e afetuoso, que resolveu me adotar àquela noite. Minha cadeira de rodas foi empurrada até a porta do bar, misturei-me àquela massa de gente suarenta e feliz. No que havia de invisível na cena, qualquer diferença entre nós era ilusão. Naquele Natal, ganhei amigos, cigarros, afagos, e uma garrafa de vinho, que escondi sob o camisolão ao retornar à cela.


Os médicos tramavam para mim mais uma cirurgia, a décima-sétima. Chegaria em breve, dos Estados Unidos, um aparelho para ser implantado na minha perna. Se a experiência inédita fosse bem-sucedida, a longo prazo, voltaria a andar.


Marcaram a data. O centro cirúrgico, equipado especialmente para o grande evento que edificaria o nome daquele hospital público, pegou fogo. A operação foi adiada.


Para minha sorte, já havia aprendido que o tempo nos hospitais é diferente do tempo da vida comum. Presenciei pacientes com alta esperarem até o dia seguinte para serem liberados, atados a alguma burocracia. Espera-se o horário de visitas e o das refeições. Mesmo que se tenha fome antes. E quando não se tem fome, é melhor comer sem apetite, do que aguardar ansioso a hora da próxima oferta. Espera-se pelos resultados dos exames, a avaliação do médico no plantão seguinte... espera-se, apenas. Pouca ou nenhuma ingerência temos sobre os fatos e seu ritmo. Se o mundo externo, sobre o qual supomos ter algum controle, já nos submete a esperas aviltantes, o que dizer do submundo dos hospitais! Na maior parte do tempo o controle remoto da nossa vida é manuseado pelos outros. Treina-se a humildade, nos hospitais.


Portanto, quando a cirurgia, que poderia me devolver ao mundo, foi adiada, aceitei. Apenas uma pressão no pescoço, e uma dor na boca do estômago, que se diluíram em seguida, quando Rose surgiu, sorrindo. Um sorriso ainda mais largo e convicto, pois tinha a função de me animar.


Rose, a enfermeira mais bonita daquele andar, era minha namorada. Certa noite, toquei a campainha, ela veio. Perguntou se eu sentia alguma dor, respondi que sim: por dentro. Começamos assim nosso romance... ela se aproximou, acariciou meus cabelos... seu beijo naquela noite tinha gosto de café.


Mas quando, semanas antes da segunda data, os médicos estrangeiros anunciaram que fariam uma modificação no aparelho, desmoronei. Rose entrou no quarto, pedi que empurrasse minha cadeira até à janela do corredor principal. Nem este esforço queria fazer. Era dia de visita, precisava ver o movimento das pessoas... alguém viria para mim, não era possível! Sobretudo naquele dia... qualquer pessoa, um parente distante, um colega do campo onde eu jogava bola, um vizinho antigo... alguém.


Fiquei ali, diante do janelão de vidro do segundo andar, olhando a entrada... os rostos que se aproximavam. Fiquei ali, até o final do horário de visitas, observando as pessoas, agora de costas, algumas apressadas, outras parecendo arrastar-se. Quando o último visitante, um homem alto e gordo, dobrou o grande portão, manobrei a cadeira para voltar. Mas não queria ir para o meu quarto, nem para qualquer outro. Queria ver além daquele pedaço de hospital, além daquelas pessoas. Queria um lugar com vista para a rua, onde pudesse morder um tasco da vida, como no Natal da minha alforria. Se recebesse de novo aquela injeção de mundo, talvez suportasse esperar a próxima data da cirurgia, mesmo sem supor quando seria.


Entrei no elevador, apertei o botão do terceiro andar - quase uma novidade para mim. Não costumava percorrer aqueles corredores, a maioria dos meus conhecidos ficava nas enfermarias de cima. Quem sabe ali encontraria minha paisagem?


Empurrei uma porta, outra, outra... cumprimentei uma faxineira antiga, agradeci a ajuda e respondi que estava passeando. O que desejava naquele momento era nunca mais precisar de ajuda, viver a utopia da autonomia total, ser um Deus. Cruzei com macas e pacientes empurrando o suporte do soro. Encontrei uma saleta bem pequena, vazia, não pude deduzir para que servia. Entrei quando percebi a janela e a luz do sol. Olhei para trás, não queria que ninguém entrasse. Havia deixado a porta praticamente fechada, com menos de um palmo de abertura, daquele ângulo ninguém me veria.


Olhei o viaduto pela janela, estava tão próximo que podia ver, no interior dos ônibus lotados, as pessoas de pé. Provavelmente, cansadas, incomodadas por estarem de pé, pensei. E sorri da ironia, do contraste dos desejos, porque ficar de pé era o que eu mais queria. Suado, grudado de gente, dentro de um ônibus lotado, ficar de pé na fila de um banco em dia de pagamento, na fila de um supermercado na véspera de um feriado, fi-car-de-pé! E o desejo surgiu com tamanha força, que espremi os olhos e prometi a mim mesmo que um dia ele seria realizado. Fiquei assim, de olhos cerrados, e a promessa foi se transformando em reza. Depois, fiquei olhando o viaduto, o movimento das ruas, o ritmo das pessoas... de repente, estava completamente seguro de que voltaria a fazer parte daquela trupe movida por desejos e metas.


Envolvido com a vida, não vi a mulher entrar. Estava ao meu lado, de repente. Uma senhora grisalha e pequena, uma velhinha corada, vestida de branco. Disse-me que a cirurgia seria no início do mês seguinte, outubro, que eu ficasse sossegado, pois não seria mais adiada. E daria certo. Perguntei em que setor trabalhava e de quem era o recado, enquanto olhava para trás, tentando entender como havia entrado sem que eu percebesse. A porta continuava no mesmo ângulo, que não permitiria a entrada de um faquir.


Quando voltei o rosto para ela, ávido por respostas, já não estava mais lá. Fiquei alguns segundos tomado pelo espanto, depois saí da sala o mais rápido que pude, procurando-a. Pedi que a atendente do andar ligasse para a portaria, e a descrevi com o máximo de detalhes. Ninguém a viu entrar ou sair. Perguntei à Rose, aos funcionários, aos enfermeiros daquele andar, de outros... ninguém a conhecia. Por fim, localizei meu médico, mas ele nada sabia sobre a notícia de uma nova data para a minha cirurgia. Aconselhou-me a ficar menos aflito, disse que grandes expectativas podem gerar fantasias, e, se eu quisesse, poderia me receitar um ansiolítico.


Dias depois, os médicos americanos marcaram a nova data. Conforme a pequena senhora me informara, a operação aconteceu no início do mês de outubro. Com sucesso. Quando abri os olhos, horas depois da cirurgia, o rosto de Rose foi ganhando forma, aos poucos. O rosto de Rose, a mulher com quem casei, de pé, no altar. A moça que conduzi à lua de mel, dirigindo meu próprio carro, e que, mais tarde, de madrugada, carreguei nos braços para amar.

Carmen Moreno

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

RESENHAS (para ler: amplie, clicando na imagem)

O Estranho (Five Star) / Suite Rio e JB - Idéias, por Luiz Horácio / 2006 (abaixo)

ALMANAQUE VIRTUAL

O Primeiro Crime - Coleção Elas São de Morte – romance policial (Rocco)


SEGREDOS FATAIS

Por Aline Aimée /1/05/2008

Escritora de vasta amplitude no que diz respeito aos gêneros literários, Carmen Moreno tem marcado presença em antologias e coleções, de contos, poesias e romances. Em 2003, essa carioca com formação em artes cênicas e educação artística fez sua estréia no romance policial com O Primeiro Crime, volume da coleção "Elas são de morte", da editora Rocco.

A trama misteriosa tem início quando Sônia, uma amazonense radicada no Rio de Janeiro, é informada que, após um desabamento, foi encontrada uma ossada humana em seu sítio. A partir desse fato, a protagonista terá de se confrontar com lembranças desagradáveis, sofrerá ameaças e experimentará o arrocho da polícia em seu encalço.

Narrada em primeira pessoa, a história é montada por flashes, fragmentos, tal qual um quebra-cabeça. Para o enredo, importam tanto os fatos cronológicos, dados e informações quanto as memórias, configurando uma investigação psicológica acurada, de imprescindível relevância não só para o desfecho, mas também para a atratividade do texto.

A protagonista se oferece em intimidade, revelando desejos, fraquezas, medos, contradições e superações. De uma vida doméstica convencional e passiva a uma reviravolta profissional e um romance fortuito, Sônia traça um painel evolutivo da própria personalidade, revelando ainda a trajetória de alguns dos suspeitos, como o esposo, então inválido, e o sócio de carreira escusa. A autora conduz o domínio narrativo, selecionando e omitindo dados, com vistas a potencializar o suspense - o que é logrado. As cenas são descritas com rigor imagético e ritmo, revelando forte influência do cinema, e a descrição de emoções e situações de tensão são construídas de modo a nos aderir à protagonista, para que as vivenciemos com ela.

O manejo evolutivo de informações atua como pista falsa, ao descortinar de modo relativamente rápido e fácil a lógica que ronda o crime. Mas o romance guarda surpresas que indicarão o real caminho a se seguir na busca pelo culpado.

Com uma narrativa que mescla delicadeza e requinte e com um final de revelação surpreendente, como não poderia deixar de ser, o romance se apresenta como um delicioso exemplar do gênero policial e como prova, não do crime, mas do talento da escritora.



O Primeiro Crime, Coleção Elas São de Morte (Rocco) / Estado de São Paulo / 2003

Foto: Carmen Moreno, Ateneia Feijó e Ana Arruda Callado






Sutilezas do Grito (Rocco) / O Globo - Prosa e Verso, por Olga Savary / 1997


Sutilezas do Grito / Site Rocco





Sutilezas do Grito (Rocco) / JB - Idéias, por Sérgio Rodrigues




Diário de Luas (Rocco) / Folha de São Paulo, por Bernardo Ajzenberg/ 1995

Diário de Luas (Rocco) / JB - Idéias, por Bráulio Tavares


Diário de Luas (Rocco) / O Globo - Prosa e Verso, por Olga Savary



Diário de Luas (Rocco) / Tribuna da Imprensa - Tribuna Bis, por Ricardo Vieira Lima

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NOITES DE AUTÓGRAFOS DOS LIVROS: O ESTRANHO, SUTILEZAS DO GRITO E DIÁRIO DE LUAS


O ESTRANHO (Five Star)

Letras e Expressões, Leblon - 2006



Convidados: Delayne Brasil, Andrea Paola, Jorge Ventura, Marcus Vinícius Quiroga, Tanussi Cardoso e Ângela Carrocino.







SUTILEZAS DO GRITO (Rocco)

Letras e Expressões, Ipanema - 1997

Evento: leitura de contos, pelos atores Paulo Gracindo Júnior e Sandra Barsotti.













DIÁRIO DE LUAS (Rocco)

Livraria Timbre, Gávea - 1995. Evento: Dramatização de trechos do livro, por 30 atores, dirigidos por Márcio Vianna.













CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA DE BENTO GONÇALVES 08


BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO 09 - ESTANDE DA SME




Leitura de poemas do livro Loja de Amores Usados (Multifoco), no prelo; e trechos dos livros em prosa: Diário de Luas, romance (Rocco); Sutilezas do Grito, contos (Rocco); O Primeiro Crime, romance policial, Coleção Elas São de Morte (Rocco), e O Estranho, contos (Five Star).










BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO 07 - JIRAU DE POESIA















Tanussi Cardoso, Mano Melo, Delayne Brasil, Patrícia Carvalho e Claufe Rodrigues, nesta ordem.

ANTOLOGIAS










Imagem da capa: Cássia Kiss

Mulheres (in) Versus - Massao Ohno Editor, SP, 1990 - Livro editado como resultado do bem-sucedido evento, coordenado por Carmen Moreno e Helena Rocha, no bar Botanic (década de 80), com a participação de cantoras, poetas, atores e atrizes, cujos nomes encontram-se listados acima. O evento fazia parte do projeto Anna Magnanni, coordenado por Maria Helena Kühner: apresentação da produção artística da mulher, em diversas áreas da criação.

Mais 30 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira, contos, Org. Luiz Ruffato, ed. Record, 2005;

Antologia da Nova Poesia Brasileira, Org. Olga Savary, ed. Hipocampo, RJ, 1992; 

Quem conta um conto – Estudos sobre contistas brasileiras estreantes nos anos 90 e 2000, Org. Helena Parente Cunha, ed. Tempo Brasileiro, 2008. Nesta coletânea, dois de seus livros foram analisados.

 Revista Poesia Sempre (nº 21), ed. Biblioteca Nacional, 2006;

A Erosão de Eros Menção Honrosa, Prêmio Stanislaw Ponte Preta 1996, ed. Rio-Arte/ Secretaria Municipal de Cultura. O texto participou de ciclos de leituras na SBAT, Teatro Ipanema, Casa da Gávea, e em outros espaços culturais da cidade do Rio de Janeiro. Foi encenado em 2004;

Santa Poesia Antologia Poética, ed.MMRio, 2001;

Linguagem Viva - João Scortecci Editor, SP, 1993;

Poesia Fora da Ordem - Prêmio Caetano Veloso - BA, 1993;

Prêmio Escriba de Poesia - Ação Cultural, Piracicaba, SP, 1990;

Trilhas Poéticased. Trote, RJ, 1986;

Água - João Scortecci & Fumiko Hayashi Editores, SP, 1979.