domingo, 24 de maio de 2015

Carmen Moreno e Delayne Brasil no CABARÉ DA POESIA:




RECADO

Letra: Carmen Moreno

Música: Delayne Brasil

SE QUERES SABER, NÃO ENLOUQUECI. MERGULHEI EM MIM,
DA DOR EXTRAÍ RIQUEZA E AMPLIDÃO, NÃO ME PERDI.
SE QUERES SABER, DISPENSO PALPITES SOBRE O PERDÃO QUE NÃO TE DEI.
NA VERDADE, EU É QUE NÃO ME PERDOEI:
PELA ENTREGA DESMEDIDA, PELO ULTRAJE DE UMA VIDA.
TE AMAR FOI ABRAÇAR O MAR SEM BRAÇOS, SEM BOTE, SEM SABER NADAR,
SEM BALSA, SEM NORTE, SEM O BÁLSAMO DA SORTE.
SE QUERES SABER, HOJE SEI O QUANTO SOFRI EM TUA COMPANHIA.
UM NOVO AMOR É A SORTE DA ALEGRIA.
DISPENSO TEUS SINAIS, RESPEITA MINHA PAZ.
EX-AMOR NUNCA FOI BOM CONSELHEIRO,
ENCERRA NO SILÊNCIO NOSSO FIM. A VIDA QUIS ASSIM.
SE PERCA DE MIM, SE PERCA DE MIM.


terça-feira, 12 de maio de 2015

Poema inédito de Carmen Moreno

FÁBULA DA FILHA QUE VIROU MÃE

A mãe não costura mais o vestido da menina magricela.

Que não é mais magricela nem menina: cresceu por meio século.

A mãe tornou-se filha, quando os passos ficaram miúdos e os cabelos rareados.

Mora na cama do quarto, tangenciando o centenário e seu ônus.

Entre fraldas e enfermeiras, seu sorriso ensina a filha a ser rocha.

Inútil sofrer, temer a data, enfeitá-la para partir serena e sem danos...

A morte é sempre súbita, por mais que bafeje no cangote dos relógios,

e prometa visita sob o martelo dos doutores.

Mas a dita não traz na lápide o fim anunciado:

A mãe nunca partirá, costurada que está na alma da menina,

desdobrada no seu melhor gesto,

nas palavras espalmadas aos carentes de mãe e de sonho.

A mãe não é mais a fala fluida, a casa antiga, os bordados de flor,

a samambaia chorona, o jardim.

Não rega mais as plantas, não planta.

Mas é plena plantação.


Carmen Moreno

Foto: marcadores de livro 
bordados por Carmen Castilho Cardoso 
(mãe da autora)